Techno, Rebeldia e Ruínas: O Berço da Batida em Berlim

Techno, Rebeldia e Ruínas: O Berço da Batida em Berlim e Londres

Nos anos 80, enquanto o mundo se debatia entre ombreiras gigantes e sintetizadores pop, uma revolução silenciosa acontecia.

INTRODUÇÃO

Uma revolução, mas com muito grave, (mas com muito grave) acontecia nos porões, fábricas abandonadas e galpões escondidos da Inglaterra e de Berlim. Era o nascimento do techno — cru, suado, subversivo. De um lado, os ingleses driblavam a Thatcher com raves ilegais no campo. Do outro, berlinenses recém-libertos do Muro transformavam o caos urbano em pista de dança. Mas se Londres deu o empurrão, foi Berlim que cravou o pé no acelerador e nunca mais tirou. E o melhor: muitos desses lugares históricos ainda estão vivos, pulsando, esperando por viajantes que curtem música com alma e uma dose de rebeldia. Se você quer explorar a capital europeia da batida — com história, atitude e noites que não têm hora pra acabar —, Berlim é o seu próximo destino.

Neste artigo, vou te mostrar 7 lugares históricos que todo amante do techno (ou qualquer um que sinta saudade da liberdade crua dos anos 80) precisa conhecer. Não é só sobre música. É sobre viver experiências que nenhum streaming entrega: energia de verdade, lugares com alma, e aquele arrepio na espinha quando a batida certa toca no lugar certo. Bora descobrir por que Berlim não é apenas a capital do techno — é o berço de uma cultura que mudou tudo.

7 LOCAIS HISTÓRICOS TECNO MUSIC BERLIM

TRESOR / KRAFTWERK

O Tresor é mais do que um clube: é um marco cultural que moldou a identidade sonora de Berlim. Fundado em 1991 por Dimitri Hegemann, o clube nasceu nos cofres subterrâneos de uma antiga loja de departamentos na Leipziger Straße. Com suas paredes de concreto e estética industrial, o espaço refletia perfeitamente a crueza e a intensidade do techno que emergia na cidade. O Tresor rapidamente se tornou um ponto de encontro para DJs e fãs de música eletrônica, estabelecendo uma conexão vital com a cena de Detroit e promovendo colaborações transatlânticas que enriqueceram o gênero.tresor.foundation+8

Em 2005, o clube teve que fechar suas portas devido à venda do terreno. No entanto, em 2007, renasceu em um novo lar: o Kraftwerk Berlin, uma antiga usina termoelétrica na Köpenicker Straße. Este espaço monumental, com sua arquitetura imponente de aço e concreto, proporcionou uma nova dimensão ao Tresor, mantendo viva a essência do clube original. Além das noites de techno, o Kraftwerk abriga eventos culturais diversos, como o festival Berlin Atonal, consolidando-se como um centro vibrante de arte e música.

Visitar o Tresor no Kraftwerk é uma experiência imersiva que transporta os visitantes às raízes do techno berlinense. É uma oportunidade de sentir a energia pulsante de um movimento que transcende gerações e continua a influenciar a cena musical global. Para os amantes da música eletrônica e da história cultural, o Tresor é uma parada obrigatória.

TACHELES

O Kunsthaus Tacheles foi um dos ícones mais vibrantes da cena artística e cultural de Berlim após a queda do Muro. Localizado na Oranienburger Straße 54–56a, no bairro de Mitte, o edifício foi originalmente construído como um centro comercial no início do século XX. Durante a Segunda Guerra Mundial, sofreu danos e, posteriormente, foi utilizado por diversas instituições, incluindo a Federação Livre dos Sindicatos Alemães durante a era da RDA. Na década de 1970, abrigou o cinema “Camera”, administrado pelo arquivo nacional de filmes da RDA. Com o tempo, o prédio deteriorou-se e estava programado para demolição em 1990.

Em fevereiro de 1990, um grupo de artistas e ativistas ocupou o edifício, impedindo sua demolição e transformando-o no Kunsthaus Tacheles. O nome “Tacheles”, derivado do iídiche, significa “falar francamente”, refletindo o espírito livre e direto do local. O espaço tornou-se um símbolo da cultura alternativa de Berlim, abrigando ateliês, galerias, cinemas, bares e clubes. As paredes externas eram adornadas com murais coloridos, enquanto o interior exibia esculturas de metal e instalações artísticas diversas.

No subsolo do Tacheles, surgiu o Ständige Vertretung, um dos primeiros clubes de música eletrônica no leste de Berlim. Fundado por um grupo de australianos que limparam os escombros do porão, o clube tornou-se um ponto de encontro para DJs e entusiastas do techno. Com uma estética crua e improvisada, o local oferecia festas memoráveis, onde a energia da música se mesclava à atmosfera única do edifício.

Apesar de sua importância cultural, o Tacheles enfrentou pressões imobiliárias ao longo dos anos. Em 1998, o prédio foi vendido por cerca de 3 milhões de marcos, mas os artistas conseguiram assinar um contrato de locação de dez anos com o novo proprietário. Após o término do contrato, em 2008, os ocupantes continuaram a administrar o espaço até serem finalmente despejados em setembro de 2012. Atualmente, o edifício foi renovado e abriga escritórios, apartamentos e estúdios de artistas, mantendo viva parte de sua herança cultural.

RAW

O RAW-Gelände, localizado na Revaler Straße 99 no bairro de Friedrichshain, é um dos espaços mais emblemáticos da cena alternativa e eletrônica de Berlim. Originalmente construído em 1867 como a “Oficina Real Prussiana de Reparos Ferroviários Berlin II”, o complexo serviu como instalação ferroviária até 1994. Após a queda do Muro de Berlim, o espaço foi transformado em um centro cultural multifacetado, abrigando clubes, galerias de arte, estúdios de artistas e espaços esportivos.

Entre os clubes notáveis do RAW-Gelände estão o Cassiopeia, conhecido por sua programação diversificada que inclui hip-hop, drum & bass e techno, e o Urban Spree, que combina uma galeria de arte com espaço para concertos e eventos ao ar livre. O local também abriga o Haubentaucher, um clube com piscina, e o Der Weiße Hase, focado em música eletrônica underground. Além disso, o espaço oferece atrações como a Skatehalle Berlin, única pista de skate indoor da cidade, e a Teledisko, considerada a menor discoteca do mundo, instalada dentro de uma antiga cabine telefônica.

O RAW-Gelände é mais do que um centro de entretenimento; é um símbolo da resiliência e criatividade berlinense, refletindo a capacidade da cidade de reinventar espaços urbanos em centros culturais vibrantes. Para os amantes da música eletrônica e da cultura alternativa, uma visita ao RAW-Gelände oferece uma imersão autêntica na alma pulsante de Berlim.

RAVE THE PLANET

O Rave The Planet é mais do que uma simples festa de rua — é uma celebração viva da cultura techno e uma continuação do legado da icônica Love Parade de Berlim. Idealizado por Dr. Motte, o mesmo visionário por trás da Love Parade original, o projeto foi lançado oficialmente em 2020 com o objetivo de preservar e promover a cultura da música eletrônica, além de abordar questões sociais e ambientais importantes.

A primeira edição do Rave The Planet Parade ocorreu em julho de 2022, marcando o retorno das grandes paradas de techno às ruas de Berlim após um hiato de 12 anos. O evento combina elementos de festival de música, manifestação política e celebração cultural, reunindo centenas de milhares de participantes em uma demonstração de paz, amor e unidade.

Além das paradas anuais, a organização sem fins lucrativos Rave The Planet tem se dedicado a iniciativas significativas, como a campanha bem-sucedida para o reconhecimento da cultura techno de Berlim como Patrimônio Cultural Imaterial pela UNESCO. Em março de 2024, essa conquista foi oficializada, destacando a importância da cena techno na identidade cultural da cidade.

Para os entusiastas da música eletrônica e da cultura alternativa, participar do Rave The Planet é mais do que uma experiência musical — é fazer parte de um movimento que celebra a diversidade, a liberdade de expressão e a herança cultural de Berlim. A próxima parada está marcada para 12 de julho de 2025, prometendo mais uma vez transformar as ruas da cidade em um palco vibrante de celebração e ativismo.

LO

LOVE PARADE

A Love Parade começou em 1989 como uma manifestação política por paz, alegria e panquecas — sim, panquecas — reunindo cerca de 150 pessoas dançando ao som de música eletrônica nas ruas de Berlim. Organizada por Matthias “Dr. Motte” Roeingh, a parada rapidamente se transformou em um fenômeno cultural, crescendo exponencialmente ao longo dos anos. Em 1999, atingiu seu auge, reunindo aproximadamente 1,5 milhão de participantes que celebravam a liberdade e a música eletrônica nas ruas da cidade.

Originalmente realizada na Kurfürstendamm, a Love Parade teve que mudar seu percurso para acomodar o crescente número de participantes, passando a ocorrer entre o Portão de Brandemburgo e a Coluna da Vitória. O evento era caracterizado por carros alegóricos equipados com sistemas de som potentes, DJs renomados e uma multidão diversa celebrando a música e a união. No entanto, em 2001, uma decisão judicial reclassificou a parada como um evento comercial, o que marcou o início de seu declínio. Em 2006, os organizadores venderam o projeto para a rede de academias McFit, que realizou um último evento em Berlim antes de transferi-lo para a região do Ruhr.

Infelizmente, a edição de 2010 em Duisburg terminou em tragédia, com a morte de 21 pessoas devido a um tumulto. Esse incidente levou ao encerramento definitivo da Love Parade.

Apesar de seu fim trágico, a Love Parade deixou um legado duradouro na cultura techno e na identidade de Berlim como capital mundial da música eletrônica. Eventos como o Rave The Planet, também idealizado por Dr. Motte, buscam reviver o espírito original da parada, promovendo a música eletrônica como uma força unificadora e culturalmente significativa

HOLZMARKT25

O Holzmarkt 25, situado às margens do rio Spree em Berlim, é um exemplo vibrante de revitalização urbana liderada por artistas e coletivos criativos. Originado do lendário clube Bar 25, que operou de 2003 a 2010, o local transformou-se em um espaço multifuncional que combina cultura, arte e comunidade. Após o fechamento do Bar 25, os fundadores estabeleceram o Holzmarkt 25 como uma cooperativa, criando um “vilarejo urbano” que abriga desde clubes noturnos até escolas e residências .

O complexo oferece uma variedade de atrações, incluindo o clube Kater Blau, sucessor espiritual do Bar 25, conhecido por suas festas prolongadas e atmosfera única. Além disso, o Holzmarkt 25 abriga cafés, padarias, espaços de coworking, estúdios de arte e áreas ao ar livre que promovem eventos culturais e comunitários . A iniciativa destaca-se por seu modelo de desenvolvimento urbano sustentável e participativo, servindo como inspiração para projetos semelhantes em outras cidades .

Para os entusiastas da música eletrônica e da cultura alternativa, o Holzmarkt 25 representa uma parada obrigatória em Berlim. O local não apenas preserva a essência da cena techno da cidade, mas também oferece uma experiência imersiva que combina história, inovação e comunidade em um ambiente único e acolhedor.

BERGHAIN

O Berghain é mais do que um clube noturno; é uma lenda viva no coração de Berlim, reverenciado por aficionados de música eletrônica e curiosos culturais de todo o mundo. Situado em uma antiga usina elétrica no bairro de Friedrichshain, o Berghain emergiu em 2004 das cinzas do Ostgut, um clube gay-fetichista que operou de 1998 a 2003. O nome “Berghain” é uma junção dos bairros Kreuzberg e Friedrichshain, simbolizando a fusão de culturas e estilos que o clube representa.

A arquitetura imponente do Berghain, com seus tetos de 18 metros de altura e estrutura de concreto bruto, cria um ambiente quase sagrado para os amantes do techno. O clube é dividido em duas áreas principais: o salão Berghain, dedicado ao techno pesado e industrial, e o Panorama Bar, no andar superior, que oferece uma seleção mais eclética de house e disco. Ambos os espaços são equipados com sistemas de som Funktion-One de última geração, proporcionando uma experiência sonora imersiva e intensa.

Além da música, o Berghain é conhecido por sua política rigorosa de não permitir fotografias e por seu código de conduta que promove a liberdade de expressão e a inclusão. O clube serve como um espaço seguro para a comunidade LGBTQ+ e para todos que buscam explorar sua identidade sem julgamentos. Eventos como o “Snax Club”, uma festa gay-fetichista que remonta aos dias do Ostgut, continuam a ser realizados, mantendo viva a herança cultural do local.

Para os entusiastas da música eletrônica e da cultura alternativa, uma visita ao Berghain é quase um rito de passagem. O clube não apenas define padrões na cena techno global, mas também exemplifica como um espaço pode ser transformado em um templo moderno de arte, música e liberdade.

CONCLUSÃO

Se você achava que techno era só música pra dançar até o sol raiar, Berlim veio te provar o contrário. A cidade é um verdadeiro museu vivo da cultura eletrônica — e o melhor: você não vê nada disso atrás de vidros ou placas informativas. Aqui, a história se vive no corpo, na pele, no suor da pista.

Cada lugar que citei — do lendário Berghain ao experimental Holzmarkt, passando pelos ecos da Love Parade e a energia renovada do Rave the Planet — carrega décadas de resistência, reinvenção e liberdade. Não são só baladas: são capítulos da história moderna de uma cidade que se reconstruiu com arte, rebeldia e fones de ouvido.

Então se você é daqueles que viajam pra sentir a alma dos lugares, não dá pra ignorar esse lado de Berlim. Seja pra dançar, refletir ou simplesmente se perder (e se encontrar) num beat de 130 BPM, esses 7 locais históricos são paradas obrigatórias pra todo amante da vida, da música e das histórias que não cabem nos livros.

Agora, que tal começar a planejar sua rota techno por Berlim? Só cuidado: depois disso, voltar pro escritório pode parecer mais surreal que uma rave no meio do Muro.

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